1.10.06

E mais uma vez me ajoelho


Nascer com bom gosto é uma maldição. As fadas se aproximam de você no nascimento, dão uma risada maquiavélica e dizem: Essa daí vai ter bom gosto. E pronto, tá feito.
A partir desta data, seus olhos enxergam proporções, equilíbrios, desequilíbrios, imperfeições, beleza.
Não, eu não sou daquelas que acha que as coisas precisam ser caras para serem bonitas mas devemos concordar numa coisa aqui: essa relação é frequentemente mais verdadeira do que falsa, infelizmente.
E não vou reclamar muito também, porque tenho pagado as minhas contas desde sempre, vendendo essa habilidade. Mas que dói, dói.
Porque você se ajoelha aos pés da deusa da beleza e jura eterna fidelidade. E ela é cruel. Toda vez que você pensa em traí-la por qualquer motivo fútil que seja (e todos são fúteis para ela), ela aperta seu coração com aquelas mãos perfeitas, de longos dedos e unhas manicuradas e diz simplesmente: não. Não e não.

O escritório novo inaugura oficialmente amanhã. Lindo. Perfeito, não. Mas, lindo.
Desculpe, minha deusa, mas para chegar à perfeição, nos falta o numerário.
Estamos exaustas, felizes e falidas.

Escuto ela ronronar no seu divã de veludo. Satisfeita. Espero, que entre um concerto e uma vernissage, um baile de máscaras e um ballet, um passeio por Fernando de Noronha e um outro por Paris, ela encontre tempo de sussurrar aos ouvidos de um dos seus vários admiradores, o deus da prosperidade, que precisamos de suas bençãos.

E toca a ir prá feira comprar flores, porque sabe, ô mulherzinha difícil de agradar.

Nenhum comentário: