25.4.07

Post chato mas necessário

Saiu uma reportagem na Épo*ca dessa semana (Como os Médicos pensam) sobre diagnóstico e as dificuldades dos médicos em relação à isso. Depois do que aconteceu com o meu pai, não posso deixar de falar alguma coisa. Porque se ajudar uma única pessoa, já valeu.

Meu pai morreu de enfarto. Foi um enfarto silencioso (o médico chamou assim). Ele passou uns quatro ou cinco dias se sentindo mal, meio esquisito. Com dor nas costas e um mal estar de estômago. Achou que era uma virose qualquer. Como não passava, no terceiro dia foi ao hospital (em São Paulo). Falou para a médica, inclusive, que achava que estava enfartando. Fez o eletrocardiograma, não deu nada (normalmente não dá nada - só aparece alguma coisa se a pessoa tiver alterações cadíacas naquele exato momento). Saiu do hospital com uma receita de relaxante muscular e remédio para enjôo.

Viemos a saber depois que existe um exame específico, que mede umas tais enzimas e que esse é o único exame que poderia ter detectado o enfarto.
Quando, finalmente, um outro médico, de outro hospital (um reles posto de saúde, sem recurso nenhum, na praia de Boiçucanga), mais atento e cuidadoso desconfiou que talvez ele estivesse enfartando e o mandou para uma UTI, o coração dele já havia perdido sessenta por cento da capacidade e ele não resistiu.

Claro que se ele fosse uma pessoa que fizesse check-ups regulares (esteira e eco), teríamos sabido antes que as coisas não estavam bem. Mas ele não era. Detestava médicos, não gostava de dar trabalho e minimizava o próprio desconforto em qualquer situação. Mas esse tipo de atitude é muito comum, muita gente é assim (eu, incluída).

O que eu estou tentando dizer aqui é que os sintomas desse tipo de enfarto são difusos e difíceis de diagnosticar. Mas existem. Só a própria pessoa pode saber o que ela está sentindo e dor de estômago, dor nas costas, suor excessivo, são alguns dos sintomas. Que passariam batido para a grande maioria das pessoas.

No caso relatado na revista, o paciente era jovem, atleta, não apresentava nenhum dos sintomas clássicos, somente uma dor esquisita que parecia muscular.
Foram feitos todos os exames, inclusive o das enzimas cardíacas. Nada. O enfarto ainda estava no começo e as enzimas ainda não apareciam. Na manhã seguinte, o cara deu entrada no hospital com enfarto agudo do miocárdio. O médico diz se arrepender de não ter segurado o paciente no hospital e refeito os exames algumas horas depois, já que ele liberou o fulano, sem diagnóstico.

Mas vejam, o cara foi para o hospital. Porque, apesar de estar acostumado com dores musculares, aquela dor, para ele, não era normal.
E é isso que interessa. Só a gente mesmo sabe se o que estamos sentindo é normal, para nós. Meu pai sabia o que estava sentindo e disse para a médica que estava estava tendo um enfarto.

Temos que insistir com os médicos. Para que eles façam todos os exames possíveis. Eles não são deuses.

E, claro, fazer check-ups regulares.

Não, eu não estou naquela viagem do que poderíamos ter feito, porque sei que não adianta nada.
Eu estou aqui, escrevendo tudo isso, justamente pelo contrário, pelo que ainda pode ser feito.

5 comentários:

Anônimo disse...

Dani, só posso te deixar um abraço muuito apertado e carinho.

Anônimo disse...

Olha, eu tenho lido seu blog. Não tenho comentado porque não tenho muito pra acrescentar a essa sua situação toda mesmo. Eu não te conheço pessoalmente e bla bla bla, mas não vou negar que fiquei pequenininho lendo sobre essas coisas que tem te acontecido.

Anunciação disse...

Tem razão,Dani,não somos mesmo.Precisamos,além de auscultar,escutar o paciente.Com essa vida agoniada que levamos,não devemos,nem por isso,trabalhar no automático.E entendo perfeitamente o que você quer dizer "pelo que ainda pode ser feito".Um grande abraço.

Anônimo disse...

Meu pai é um homem zeloso com os check-ups anuais. E sinto que isso salvou a vida dele, já que, mesmo sem nenhum único sintoma, foi diagnosticado que as coronárias dele estavam seriamente comprometidas. Ontem fez um mês que ele colocou quatro pontes de safena e uma mamária. E ele está muito bem, muito bem mesmo. Até viajou nesse feriadão. A gente pensa que não, mas um bom diagnóstico pode ser determinante.

Anônimo disse...

Gracias pela generosidade.