30.8.05

Lolitas e Balzacas

Vou reproduzir aqui, ipsis literis, sem link nem nada, porque, gente, de vez em quando é tãaaao bom ler (ouvir) coisas assim. Xico Sá, eu te amo!

De Xico Sá.

Desde a "Lolita" de Nabokov, livro lindamente filmado por Kubrick, que o encontro de um homem maduro com uma gazela em flor rende bons dramas, teatro, cinema, novelas... além de riscar, num bater de cílios, o fósforo do desejo no cocoruto de mocinhas, senhores grisalhos ou "cafas" propriamente ditos.
Reparem no caso do tio-mauricinho (Edson Celulari) e a viçosa Lurdinha (Cleo Pires), no folhetim de Gloria Perez. Lurdinha é boa porque não é simplesmente uma ninfeta, é mesmo uma lolita. Para ser ninfeta, basta ter pouca idade e frescor; para ser uma lolita é preciso ser uma menina má, impiedosa, de modo a ferver a testosterona no juízo alheio, como no modelo clássico e nabokoviniano.
Uma ninfeta pode ser tão-somente uma menina chata, cri-cri, cheia de nove-horas e catchup até na alma. Raramente uma ninfeta se torna uma lolita, são poucas, embora muitas acreditem que estão sendo o máximo.
Jamais vale a pena trocar uma linda afilhada de Balzac, com seu ritmo e o seu luxo de existência, por duas de 17,18, 20...
Muitos homens caem nesse conto óbvio da pouca idade, largam precipitadamente as suas mulheres, enfiam-se debaixo dessa arapuca amadora do desejo como um pássaro faminto. Seria o inconsciente incendiado pela invenção do incesto?
Nada mais irritante do que a pressa de viver e o sexo fast-food das ninfetas.
A menos que seja à vera uma lolita, cuja sabedoria precoce e a maldade inata superam o cheiro do leite dos poucos aniversários. N´outras palavras: "Por esse jeito de menina/E esse gosto de mulher", como traduz a lírica brega e genial de "mon amour meu bem ma femme", na voz sábia de Reginaldo Rossi.
Ah, chega de lengalengas e nove horas, troque agora mesmo as suas ninfetas ou lolitas por uma linda mademoiselle acima dos trinta.

Xico Sá é cronista do Blônicas nas segundas-feiras.

Um comentário:

Momento Descontrol disse...

Nossa, também amo esse homem. Impressionante como a leitura dele faz bem à minha alma!
Ah, e parabéns pelo teste, confesso que fiquei com um pouco de inveja da sua Sofia Coppola.;-)