18.2.06
E as pessoas me dizem
que eu não tenho cara de quem gosta de carnaval. Sei. E prá gostar de carnaval precisa ter alguma cara específica? Tá. Eu sei o que eles estão querendo dizer. E pobres. Acham que estão me fazendo elogios. Querem dizer que eu tenho cara de "chic". Hum hum. Brigada. Mas esse negócio de carnaval não obedece muito a esses critérios, não senhor. Porque passa muito mais pelo coração e pelo útero, do que qualquer outra coisa. Em primeiro lugar, simplesmente não resisto a um tambor. É impossível. Deve ser em função dos meus negros ancestrais, porque a maior parte da família é assim. O samba tá no pé, na alma e no coração. Minha tia sempre diz que ela pode estar moribunda na cama que se o Olodum passar debaixo da janela dela, ela sai pulando atrás. Fora isso, tem a questão das fantasias. A possibilidade de se travestir de qualquer coisa, de escrava a rainha, e ainda por cima, liberar o grito, o ritmo, o sonho. A massa. A emoção de participar de uma celebração que chega a ser uma catarse. Se largar no meio das pessoas, ser uma pequena parte de um todo que pulsa no ritmo da bateria. Sinto muito quem não concorda, mas é a experiência mais Gaia que eu conheço. E prá terminar, é lindo. É uma expressão de arte, criatividade, cultura. A passarela do samba é isso mesmo. Uma passarela, onde não existem regras. Onde você pode, de verdade, criar. Porque não precisa ser comercial, não precisa ser fácil de produzir e de lavar à máquina, não precisa ser barato. Que são os limitantes do meu trabalho, todo santo dia. Sonho. Sonho. Sonho. O Zé vive dizendo que se eu tivesse nascido negra, num morro qualquer do Rio, eu seria mais feliz. Talvez, não sei. Mas com certeza, numa hora dessas, estaria dando os retoques finais em fantasias desenhadas por mim. E põe mais uma lantejoula, que é prá brilhar muito!
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