1.3.06

Carnaval - 1º capítulo

Tá bom. Vou contar tudo. Tim-tim por tim-tim.
Sexta-feira. Acordo cedo, Mateus tem aula.
Faço café, assisto o jornal (carnaval, carnaval, carnaval), enrolo um pouco e vou pra manicure. Marquei nove e meia mas resolvo chegar mais cedo e fazer um bronzeamento. Tá bom. Confesso. Fui lá, destruir o epitélio. Bronzeado e unhas nos trinques, saio às compras. Lista: pancake ou uma base nova bem boa, sombra preta que a minha tá toda despedaçada, quem sabe encontro a sandália e uma regatinha verde? (disseram que a camiseta do camarote é verdona - essas foram as palavras, assumo que vou assistir à Gaviões vestida de palmeirense mas é carnaval e vale tudo).
Acho tudo e mais um pouco numa loja de artigos de beleza que as meninas do cabeleireiro me indicaram e ainda saio de lá com um baby-liss profissa (coisa que eu já queria há muito tempo, para quando os meus cachos se rebelam e se recusam a dar o ar da graça).
Vou caçar a camiseta e acabo comprando outras duas na liquidação e que absolutamente não servem para o carnaval. Então, tá.
Pelo menos, encontro a sandália. Plataforma na frente, salto alto e fino, pero no mucho - tudo de cortiça (leve, leve, leve) e numa corzinha assim meio couro cru com uns melecadinhos leves de dourado fosco. Perfeita!
Volto prá casa. Almoço. Jornal de novo (carnaval, carnaval, carnaval).
Vou deitar e tentar dormir. Demora, mas consigo sonhar por duas horas. Acordo às quinze prás seis. Café, cigarro e banho, nessa ordem.
Comprei também um ativador de cachos, então toca a passar o treco e amassa daqui, amassa dali.
Vou até a padaria. Red Bull e lanche pro Mateus que pela primeira vez na história vai ficar sozinho em casa à noite. Ai ai.
Mais spray e mais amassos e já são quase sete. Os cachos vão bem, obrigada e toca a fazer a maquiagem.
Até essa hora não sei o que vou vestir. Tinha separado uma pilha de possíveis blusas e uma minissaia jeans. Visto todas e claro, que dúvida, não gosto de nenhuma. Pego uma hering preta e passo a tesoura nela. Pronto. Amarro um colar que tem uma pena no braço. Perfeito. Minissaia. Check. Saltão. Check. Cabelão cacheado. Check. Make-up. Check.
Agora é esperar o Zé. Que tá no bar do português, tomando uma cerveja com o pessoal do escritório. Combinamos de sair às nove. Tá. Falta meia hora. Não é muito prá esperar.
Nove horas, nada. Nove e cinco, nada. Nove e sete, nada. Ligo no celular dele e ouço tocar aqui em casa. Puto! Nove e dez, nove e doze, nove e quinze... Quando eu acho que eu vou surtar de vez, ele aparece e vai tomar banho. Na maior c a l m a do m u n d o.
Bom, estamos a caminho. Trânsito zero até as proximidades do sambódromo. Fico de olho no relógio (a Gaviões é a primeira, né?) mas estou tranquila, temos tempo.
De acordo com as instruções que eu recebi, temos que ir até o Campo de Marte. Lá podemos estacionar o carro (pagando vinte pilas), pegar o ingresso e sermos levados de van, até o camarote. Mordomias e tal e coisa.
Bão. Um certo trânsito paulistano, absolutamente parado, para chegar no tal do estacionamento. Chegamos.
Lá tem umas barraquinhas, com o pessoal receptivo (termos deles) de vários camarotes. Nessa hora, o Luiz Carlos, amigo que descolou esses convites, já me ligou três vezes e já tá lá sentado numa mesinha no nível da avenida, guardando lugares, amém.
Então. Nossa barraquinha. Nome na lista. Documentos. Pulseirinha no pulso e um cartão magnético na mão, vamos para a fila da van. Isso mesmo, amigos da Rede Globo. A fila da van parece mais um ponto de lotação, trocentos seres humanos. Na nossa fila, bem entendido. Que na fila do camarote das Casas Bahia tem muito menos gente.
Ai, que bom! Lá vem um micro-ônibus! E para na fila das Casas Bahia! E outro! E toca a levar o povo das Casas Bahia! E o tempo passa e os micro-ônibus vem e vão e viva as Casas Bahia!
Começo a conversar na fila (incrível como é fácil fazer "amigos" em filas! Quem sofre unido, permanece unido) e descubro que as "nossas" vans tiveram problemas com a licença e não estão podendo passar por dentro do Campo de Marte e através de uma rua interditada para chegar ao sambódromo (fiquem sabendo aqui e agora que "os povos dos camarotes" não tem que passar pelo trânsito dos pobres mortais). Sei. E as vans demoram séculos, eras geológicas, galácticas, para voltar. Ai, meu deus, porque é que eu não conheço viv'alma das Casas Bahia?
O Zé se mexe. Vocês não conhecem o Zé. Tem cinco microônibus das CB lá parados e nenhuma van. Conversa com o moço organizador do nosso barraco e insiste prá que ele converse com o povo lá, que detém o controle dos micros. Nessa hora, estamos muito próximos de uma rebelião. Cê já viu povo fino na fila da van? Pois então. Revolta instalada. Aproveito esse momento para deixar bem claro que ninguém que estava nesta fila pagou, absolutamente nenhum centavo, para estar lá, eram todos convidados, tudo "de grátis". Motivo mais que suficiente para eles reclamarem mais ainda, claro. Eu, por mim, já tinha atravessado o Campo de Marte inteirinho a pé, em cima do salto, que a Gaviões eu não perco!
Bom, deu certo. Não sei se foi a conversa do Zé mas lá fomos nós, confortavelmente instalados, no micro-ônibus das Casas Bahia.

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