6.5.08

Meio e Mensagem


Dia desses escrevi essa estorinha para uma pessoa específica. Como ele me deu autorização, aqui está. Eu sei que não sou escritora e que o estilo é um plágio descarado da Marina Colasanti mas serviu bem ao propósito. Ele entendeu perfeitamente.

Asas

Durante muitos anos, eu me sentei naquele banquinho.
De quinze em quinze dias, cuidadoso e delicado, ele me aparava as asas.
Nos olhos dele eu via apenas o amor e não o medo.
No início, doía um pouco, mas ele limpava o sangue do chão frio de azulejos e secava minhas lágrimas com beijos.
Com o tempo, e as cicatrizes, foi ficando mais fácil. Rotineiro, até. Fazer as unhas dos pés, cortar as asas.


Claro, veja, era para o meu bem, onde já se viu? Uma mulher com asas?
Cordata e obediente, eu deixava que ele me transformasse em uma mulher perfeita.
E levasse o meu riso com ele, bem guardado, em um porta-jóias dourado.
Para ser usado em ocasiões especiais, feito anel de brilhantes em cofre de banco, só saindo em dias de festa.
Com o passar do tempo, às vezes, ele se esquecia, e uma pena ou outra teimava em aparecer.
Rapidamente arrancada por ele ou por mim mesma.


Hoje elas crescem de novo.
Desordenadas, confusas, espalhafatosas, algo difíceis de manejar.
Então, por favor, não me peça para dizer palavras que eu não posso dizer.
Nem fazer promessas que eu não posso fazer.
Porque o que eu preciso mesmo, é que você me alimente.
Ambrosia aos montes, da sua mão para a minha boca.
E depois,depois que eu conseguir voar, depois você pode pedir tudo.

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