15.12.05

Meu anjo, Tião

Não sei bem porque, hoje eu me lembrei do Tião. E senti saudades. Veja bem, Tião foi meu motorista. Eu não dirigia, não dirijo e provavelmente nunca vou dirigir. Não gosto. Tinha 25 anos e fiquei grávida. O Zé, que na época estava galgando muchos degraus da corporate ladder, não queria que eu ficasse sassaricando por aí, barriguda, dentro de um taxi. Então contratou o Tião. Se bem que ele pagou o primeiro salário e depois passou a bola prá mim. Whatever. Eu também ganhava muitos dinheiros nessa época. Pois bem. O Tião era meu anjo da guarda. O Tião cuidava de mim. Ele me acompanhou durante toda a gravidez. Exames, consultas, trabalho, trabalho, trabalho. Ele fazia por mim todas as coisas chatas e insuportáveis que um ser humano fêmea proprietária de uma casa tem que fazer: banco (não tinha internet, né?), supermercado, feira, tudo mesmo. E quando o Mateus nasceu, prematuro de quase sete meses e teve que passar quarenta e oito longos dias no hospital, era o Tião que me levava todo santo dia de manhã bem cedo para a primeira ordenha (eles botavam a gente numa máquina para tirar o leite). E era o Tião que estava lá até a hora da última, às nove da noite. Porque vejam bem, o Zé estava galgando os degraus da fucking corporate ladder.
Foi uma das épocas mais sofridas em toda a minha vida e sem ele, não sei se eu teria conseguido.
Só de lembrar, já fico emocionada. Lá vou eu, derramar lágrimas sobre o teclado.
Pois é. Hoje, lembrei do meu amigo Tião. E senti saudades. E muita falta de alguém que cuide de mim. E meus olhos estão embaçados e não consigo enxergar mais a tela.
Tive que dispensar o Tião quando o Mateus estava com três ou quatro meses. Meu ritmo de trabalho diminuiu muito e os dinheiros já não eram tantos. Me doeu muito abrir mão do Tião.
Perdi o contato com ele, nos anos que passei fora de São Paulo. A última vez que ele me ligou, disse que estava trabalhando como motorista da Enterpa, dirigindo o caminhão de lixo das quatro da tarde às dez da noite e que se eu precisasse dele para qualquer coisa, ele poderia dirigir para mim, de manhã.
Nunca mais o vi. E hoje, de repente, senti muitas saudades do meu anjo, Tião.
E chega. Porque vou para uma reunião e vou chegar lá toda inchada, de tanto chorar. Ainda bem que estou com gripe e dá prá botar a culpa nela.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pena que provavelmente ele nem vai ficar sabendo disso, da saudade e da gratidão que você sente... é uma tristeza, né, a forma pela qual a vida vai levando nossos anjos pra longe ? Mas não fica triste, Dani. Tem mais anjos soltos por aí, e você ainda vai encontrar vários. :o*

Anônimo disse...

Ai, Dani, olha eu aqui marejando e nem conheci o Tião...