31.10.06

Meu coração, ao mesmo tempo, fica apertado e sorri

Ai, ai.
Acho que o Mateus está apaixonado. Os sintomas estão quase todos lá. Há um mês, mais ou menos, ele vem me pedindo para comprar umas roupas novas, está se arrumando para ir prá escola e pasmem! quer cortar o cabelo. Esse é o sintoma mais grave. Porque vocês não tem idéia. Para o Mateus cortar o cabelo é necessária uma conferência extraordinária da ONU. Mais ou menos assim. Ele NUNCA quer cortar o cabelo. O cabelo dele é castanho bem claro, liso e comprido e como TODAS AS PESSOAS DESTE MUNDO vivem dizendo que o cabelo dele é lindo e talecousa e cousaetal, ele acha que então, não precisa cortar nunca, porque vai perder parte da lindeza, ó horror!
E meu coração padece. Porque eu sei, ah! eu sei, como a gente sofre com o primeiro amor. A gente vai aos estertores da agonia romântica. Se bem que esse não é o primeiro, teve a Cecilinha no pré-primário, mas a Cecilinha não conta.

Hoje ele acordou mais cedo para *atenção aqui neste ponto da narrativa* tomar banho! B A N H O !!!!!! (muitas exclamações necessárias) e passou até perfume (que eu comprei de presente para ele nesse fim de semana porque, sabe, eu entendo e comungo e ajudo, mas sofro sofro sofro).

Dia desses eu fiz a pergunta diretamente:
"Filho, você está gostando de alguém?"
"Não, mãe. Não tô, não."
"Tem certeza? Quando você tiver você vai me contar?"
"Você contou prá vó?"
(Claro que não contei, né? E tive que dizer a verdade, não costumo mentir prá ele a não ser em caso de vida ou morte, então disse:)
"Não. Não contei. Mas a vó não era tão minha amiga assim, como nós somos. Você pode me contar o que você quiser. A mãe é sua amiga e você pode me pedir ajuda, se precisar. A mãe já passou por tudo isso, sabe?"
(Claro que não adiantou nada e não sei se ele vai me contar mesmo e eu sei que ele precisa da privacidade dele mas... que eu queria saber, eu queria)

Ah, meu filho, que a vida seja generosa com você e os muitos amores que virão...

25.10.06

Sem lenço, sem documento, sem cartão

Estou como a Suzana. Na semana retrasada recebi um telegrama do cartão dizendo que havia a possibilidade dele ter sido clonado e que seria cancelado. Me pediram para aguardar o novo. Até agora nada. Ontem, sai para almoçar somente com o meu cartão do banco no bolso. Adivinha? Não passou.
Erro 65. Ligar para autorização. Fuck.
Assino um papelzinho lá no restaurante. Ainda bem que eu almoço lá com freqüência, o mocinho do caixa me conhece. Mais ou menos.
Vou até o banco, falo com a gerente. Ela diz que o cartão está normal, que é problema do sistema. Tudo hoje é pobrema do sistema. Então, tá.
Hoje de manhã, saio de casa mais cedo e passo nas Lojas Americahnas para comprar umas bobagens, hidratante, rímel, condicionador. No caixa: Erro 65. Ligar para autorização. Fuck ao quadrado.
Tudo bem que eu tô quebrada, mas os céus precisavam avariar TODOS os meus cartões?

24.10.06

Atchinnnn!


Não, não é a gripe aviária. É a doença do emprego, mesmo. De tempos em tempos, eu pego.

Resolvo que nenhuma liberdade do mundo vale a segurança de um contra-cheque, férias remuneradas e cof cof, benefícios. Acho tudo muito lindo, amo muito tudo isso e decido que essa vida de pessoa independente, que precisa pagar um contador, não serve mais, não. Está me levando toda a sanidade mental, esse negócio de profissional liberal.
Aí começo a pensar no que eu sei fazer. Muitas coisas, na verdade. Uma série de coisas pelas quais ninguém quer pagar o que eu quero ganhar, claro.

Eu, na vida toda, só tive um emprego. Nunca tirei carteira de trabalho, nunca recebi um centavo de FGTS. Mesmo nesse "emprego" eu tinha uma micro e dava nota fiscal, ou seja, eu tinha que ter um contador. É uma sina. "Você vai ter contadores ad eternum. Amém."

O vírus tá espalhado pelo ar e basta a imunidade bancária baixar que ela me pega, a maldita.

Quem não tem emprego não tem que apresentar atestado médico, nem dar satisfação. Pois então. Acho que vou tirar uns dias, tomar muito líquido e esperar passar. Tem outro jeito, não.

23.10.06

Não. Entendeu?

Estava assistindo ontem a um programa no G.N.T sobre casais. Esse, especificamente, era sobre casais de nacionalidade mista. Brasileiros com estrangeiros. Duas coisas me chamaram a atenção. Duas, que na verdade, são as mesmas. Os estrangeiros, SEM EXCEÇÃO, disseram que nós não sabemos dizer não e que nós dizemos uma coisa e queremos dizer outra.
Eles entendem que nós não somos francos, eu acho que não somos literais. E que, sempre pisando em ovos, temos medo de desagradar o outro.
Somos um país de agradadores inseguros e temos a maior dificuldade em dizer o que pensamos, por medo de correr o risco de não sermos, naquele momento, amados, gostáveis, legais. O que, na vida, acaba provocando uma série de situações em que estamos onde não queríamos estar, fazemos o que não queríamos fazer, somos o que não queremos ser.

Se eu fico esperando que você interprete meus sinais e leia SEMPRE nas entrelinhas e, principalmente, entenda quando o meu não quer dizer sim, quando o meu sim quer dizer não e adivinhe o que quero dizer com o meu silêncio, posso morrer de esperar.

16.10.06

Só prá vocês saberem

A minha empregada, que já não veio a semana passada, me ligou ontem à noite para dizer que a médica falou que ela só pode voltar no dia 27. Vinte e sete.
O Mateus passou mal a noite toda, deve ser uma dessas viroses. Faltou na escola e agora, dorme.
E eu que deveria estar na bicicleta ergométrica do escritório, estou aqui.
E depois de dar um tapa na casa, resolvo lavar um pouco de roupa, porque a montanha cresce.
A máquina de lavar quebrou.

12.10.06

Feriado

E eu sei que eu tenho que dizer alguma coisa para os pobres que continuam vindo.

Tédio. Cansaço. Desânimo. E não sei o que é pior. Se ficar em casa ou ir pro escritório. Porque quando estou em casa, quero ir pro escritório e quando estou no escritório quero vir prá casa, então acho que devia ir pr'outro lugar qualquer que eu também não sei aonde é. Parecido com vontade de comer alguma coisa sem saber o quê.
Além disso, o trabalho ultimamente tem parecido uma bicicleta ergométrica.
Não tem servido para nada, nem chegado a lugar nenhum.

Podia ir lavar aquele monte de louça que se acumula lá na pia.

E o Zé fica me perguntando porque é que eu não o amo mais.
Tenho preguiça até de dizer que amo. Então sorrio.
O que já me custa um esforço demasiado.

11.10.06

Só a Mega Sena salva

Acordei ontem, terça-feira, me sentindo como se fosse sexta. O cansaço correspondente, quero dizer. Preciso urgentemente de dinheiro ou de férias.

5.10.06

Celebridade?

Na semana passada, o Mateus deu mais um salto mortal da arquibancada da escola e se estourou todo. Passamos a tarde no hospital. Saiu de lá com um braço engessado e o corpo todo dolorido. Depois de uma semana tomando banho com saco de lixo no braço e sentado numa cadeira de plástico, voltamos para tirar o gesso e metade do hospital o conhecia (incluindo TODOS os técnicos em radiologia). Ele disse: Mãe, eu sou famoso.
Acho que ser famoso no hospital, não é boa coisa. Não é não.

2.10.06

Política, Religião etc and all

Eu vou começar já terminando porque nunca quis e continuo não querendo falar desse assunto aqui. Mas é o assunto. Então vamos lá. Eu sempre tentei votar com coerência. Mas vivo numa cidade, estado, país, que elegeu Jâhnio Quadros, Paulo Mahluf, Fernando Cohllor. Então. Frequentemente fica difícil. Não voto nulo. Não acredito em me eximir da responsabilidade.
Honestidade não devia ser qualidade, devia ser condição sine qua non e no mundo ideal estaríamos escolhendo entre programas de governo e capacidades.

Essa polarização esquerda-direita já deu no saco faz tempo, pelo menos no meu. E na minha modesta opinião, esse debate é antigo e ultrapassado. Porque este mundo vem mudando numa velocidade assustadora e novas questões estão e serão colocadas a todo instante.
A questão da pobreza, da falta de emprego, da insuficiência de recursos naturais, de riqueza suficiente, é mundial.
E não vejo isso ser considerado pelas pessoas que estão por aí.

Me parece que ainda há de surgir uma geração que pense nesse mundo que estamos vivendo agora, porque essa que está aí, não pensa, não. No mundo REAL. Porque, como disse o Gahbeira, a esquerda perdeu o trem. E a direita... bom, é a direita, né?

Então só quero dizer que seja em quem for que você tenha votado, o segundo turno é bom.
Pelo menos, são mais vinte e seis dias em que eu espero escutar propostas.

PS. E acabo de ver a Heloena Helisa na TV, dizendo que os eleitores dela são homens e mulheres livres, que não precisam de indicação para votar em ninguém. Tá. Fácil, assim, né? Tirar o dela da reta. Achei que ela tinha mais peito.

1.10.06

E mais uma vez me ajoelho


Nascer com bom gosto é uma maldição. As fadas se aproximam de você no nascimento, dão uma risada maquiavélica e dizem: Essa daí vai ter bom gosto. E pronto, tá feito.
A partir desta data, seus olhos enxergam proporções, equilíbrios, desequilíbrios, imperfeições, beleza.
Não, eu não sou daquelas que acha que as coisas precisam ser caras para serem bonitas mas devemos concordar numa coisa aqui: essa relação é frequentemente mais verdadeira do que falsa, infelizmente.
E não vou reclamar muito também, porque tenho pagado as minhas contas desde sempre, vendendo essa habilidade. Mas que dói, dói.
Porque você se ajoelha aos pés da deusa da beleza e jura eterna fidelidade. E ela é cruel. Toda vez que você pensa em traí-la por qualquer motivo fútil que seja (e todos são fúteis para ela), ela aperta seu coração com aquelas mãos perfeitas, de longos dedos e unhas manicuradas e diz simplesmente: não. Não e não.

O escritório novo inaugura oficialmente amanhã. Lindo. Perfeito, não. Mas, lindo.
Desculpe, minha deusa, mas para chegar à perfeição, nos falta o numerário.
Estamos exaustas, felizes e falidas.

Escuto ela ronronar no seu divã de veludo. Satisfeita. Espero, que entre um concerto e uma vernissage, um baile de máscaras e um ballet, um passeio por Fernando de Noronha e um outro por Paris, ela encontre tempo de sussurrar aos ouvidos de um dos seus vários admiradores, o deus da prosperidade, que precisamos de suas bençãos.

E toca a ir prá feira comprar flores, porque sabe, ô mulherzinha difícil de agradar.