10.10.05

Sim ou Não?

Começo citando o Flávio Gikovate, que por sua vez, cita Ortega y Gasset:

"Nosso vigor intelectual está diretamente relacionado com a capacidade que temos de sentir dúvidas. Costumamos preferir explicações apressadas e singelas ao convívio doloroso com as dúvidas"

Estou em dúvida. Não tenho medo dela. Sócrates é meu mestre. A respeito desse assunto, por enquanto, só tenho uma certeza: sou contra o referendo. Acho um dinheiro extremamente mal gasto. Dinheiro que poderia ter sido melhor usado em educação. Educação em prevenção à violência.
Me incomoda achar que estamos fazendo parte de mais uma daquelas manobras políticas, sabe? Mais um daqueles lances de demagogia para nos fazer acreditar que estão fazendo algo para resolver o problema. Estão? Não acho. Há exceções. Tenho que citar aqui, o PROERD - programa da Polícia Militar de prevenção ao uso de drogas e à violência que é aplicado em qualquer escola interessada, às crianças da quarta série do ensino fundamental. Mas no geral, não tenho visto nada ser feito. Havemos de precisar de muitas Donas Vitórias e suas câmeras de VHS, para ajudar nas investigações criminais.

Sou contra as armas por princípio. Óbvio. Quem não seria? Pessoalmente, detesto armas. Não tenho coragem nem prá chegar perto. Minha primeira vontade, assim, sem pensar, é votar a favor da proibição. Mas não acho que se deva votar em nada sem pensar. E, definitivamente, não acho que a proibição do comércio de armas vá mudar o quadro da violência nesse país. Não mesmo. Até acredito que pode haver uma diminuição nos acidentes domésticos e crimes passionais. Mas o problema mesmo? Não vai resolver, não. Porque o problema não é causado pelo comércio legal de armas, como todo mundo sabe. O verdadeiro problema é causado pela miséria, pela falta de educação, pela desigualdade de oportunidades. Bom mesmo seria que as armas não fossem mais vendidas por falta de demanda e não por falta de lojas. Além disso, sempre me preocupa o cerceamento de direitos civis, sejam eles quais forem. Deve ser trauma.

Tentei me informar melhor. Ler as pesquisas. Desisti. As pesquisas não dizem nada, são absolutamente contraditórias. Tá parecendo a Bíblia. Querendo provar qualquer tese, sempre se acha lá dentro o que você precisa para defender qualquer argumentação. Tenho lido também, a montanha de matérias e textos já publicados sobre o assunto. Textos muito bem escritos, por sinal, defendendo ambas as posições. Ainda não consegui me decidir.

Tenho um amigo que subiu um morro do Rio. É um outro mundo, ele disse. Armas? É um exército. São metralhadoras, fuzis, automáticas. Alguém acha que essas armas são compradas em lojas? Essas armas não entram no país em um lombo de jegue, gente. Vem de avião ou de navio. E como elas passam debaixo das fuças das nossas autoridades? Não sei. Quem sou eu pra saber?

Sei que vivemos inseguros. E tristes. Tristes porque sabemos que esse problema não é de fácil solução. Tristes porque vivemos em um país onde a desigualdade é enorme, principalmente de oportunidades. Um país que nos faz sentir culpados pela nossa própria prosperidade, ainda que resultado de trabalho duro. Um país violento.

E é por isso que eu vou pensar mais um pouco. Porque esse direito, ninguém me tira.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito do seu texto, Dani. A sensação que eu tenho é essa mesma. Que as pessoas estão se dividindo e dividindo o mundo entre bons e maus. Estão avaliando uma questão complicadíssima de forma absolutamente passional. Eu também não sei o que dizer, o que pensar, nada. No início, mal informada, eu achei que era um referendo sobre o desarmamento. Não é. (E acho que isso também é muito esquecido). Enfim, é uma problema gigante que não vai mudar uma vírgula com o referendo.

Beijos.

Anônimo disse...

Pra mim a coisa toda se encaixa na famosa lógica da faca de dois legumes:
-Questã abobrinha: Você é contra o comércio de armas? É logico que sim, mané!
-Questã dois: A lei a ser criada combate a violência? Não cheira nem fede! Já temos lei pra chuchu.
Ou seja, sobrou o que na nossa mão?

Anônimo disse...

Estava me achando uma tonta por não ter me decidido ainda sobre esta história toda e dando graças a Deus por não ter que votar (tô longe, vou justificar, né?). Que alívio ver esta dúvida é norrrrrmal.
Só uma certeza: não era hora pra referendo p... nenhuma!!!