19.1.06

Presentation is sooo important

Consulado americano, depois de duas horas de chá de cadeira, impressões digitais, eteceteras.

"Pegue o telefone" (você fica de pé de frente para uma cabine com vidros duplos e fala num daqueles telefones de cadeia americana)
"O que você faz?"

"Sou sócia de uma empresa que dá consultoria para o grande varejo de moda, sou estilista"
(Detalhe: nada disso está formalizado, não sou sócia da Marcia no papel, estamos neste exato momento mudando o contrato social da empresa para me incluir)

"Me dá o imposto de renda."

(Meu imposto de renda é uma merda, o do ano passado diz que eu ganhei, o ano todo, a tantalizing quantia de 14 mil reais)
Enfio pelo buraquinho o contrato social ainda não registrado, o extrato da conta do escritório e o meu extrato pessoal.

"Você não tem imposto de renda?"

"Peraí, estou procurando."
(Enrolo mais uns segundos para dar tempo de ele olhar os extratos e enfio o tal imposto no buraquinho. Ele me olha com uma cara de quem diz: só? Olho prá ele com uma cara de quem diz: ó, esse imposto é assim meio mais ou menos... e pergunto:)

"Você quer os documentos do meu filho?"
(Mais um detalhe: não sou legalmente casada. No meu passaporte está escrito SOLTEIRA, então preciso dar um jeito prá ele saber que tenho filho e marido e absolutamente não quero de maneira alguma lavar pratos nos Estados Unidos)

"Você tem filho?"

"Tenho. Tem onze anos."

"Você mora sozinha com o seu filho?"

"Não. Moro com meu filho e meu marido, mas não sou legalmente casada. Você quer os documentos do meu filho?"

"Não. Não precisa. Há quanto tempo você é casada?"

"Dezesseis anos."
(Ele me olha com um misto de surpresa e aprovação nessa hora)

"Você trouxe o imposto de renda dele?"
(Pausa para reflexão aqui. Eu não levei porque achei que eles não iam nem considerar mas, se podia ter levado, então você pode levar o imposto do seu amigo milionário e dizer que é teúda e manteúda, madame de primeiríssima categoria. Aliás, nesse quesito documentos, meio que dá prá levar o que quiser, porque eles nem olham direito e não checam nada)

"Não. Porque achei que como não sou casada, vocês não iam considerar."

"Há quanto tempo você trabalha nessa empresa?"

"Três anos."

"O que você vai fazer nos Estados Unidos?"

"Ver a coleção de verão que está entrando nas lojas."

"Porque você ficou tanto tempo sem ir para os Estados Unidos?"
(A última vez foi há dez anos)

"Meu filho era pequeno e eu fiquei um tempo sem trabalhar e viajar."
(Uma meia verdade - também passamos esses dez anos sem tostão)

"Ah! Você mora no Jardim América?"
(Tom de admiração nessa frase, percebo que é aqui que está minha abertura e digo:)

"É. Pertinho de onde ficava o consulado."

"Então, tá. "
(E assinou lá o papel e me deu um papelzinho amarelo que eu já sabia, de observar as pessoas antes de mim, que significava: sim, você merece viajar para os Estados Unidos)

Olha, gente, sei lá. Eu achava que com as minhas credenciais esse visto tinha a maior probabilidade de não rolar, apesar de eu já ter viajado um bocado nos bons tempos e sempre ter voltado bonitinha para casa. Claro que fui vestida de Patrícia casual tentando transmitir "sou chique assim mesmo, sem fazer nenhum esforço, todo santo dia da semana, nem me arrumei hoje". E fiz as unhas e uma escovinha (porque riquinha, nesse país, tem cabelo liso) e botei um anel de ouro que o Zé me deu de Natal há anos e que eu quase nunca uso porque acho ele meio Patrícia demais pro meu gosto.
Não sei o que foi que funcionou. Mas tenho quase absoluta certeza de que foi meu endereço. Do qual aliás, ele não pediu comprovante, portanto você também pode botar lá na ficha que mora na Vila Nova Conceição.
Só prá finalizar quero deixar bem claro (vai que o moço do consulado lê blogs) que eu não quero de maneira nenhuma morar nos Estados Unidos. Nem que me paguem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Essa madame é foda de chiquequésima mesmo, quero dizer: assim displicentemente...

Odessa Valadares disse...

Ainda bem que eu NUNCA quis conhecer o tal país. Que frescura pra poder entrar!

Anônimo disse...

hehe, gostei mesmo foi da parte "como introduzir o filho e o maridão na conversa"... Taí, vai pros States Eu devia ter lido isso há uns anos, quando queria passar uma temporada em Londres e não me aceitaram... Se você visse minha cara de terrorista pré-Bin Laden!
:-) Beijo